Por que me Consagrar a Nossa Senhora?
Quando o católico reza seu terço é comum ao final recitar o Salve Rainha, onde em uma parte é anunciado: “A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”, e logo após “e depois deste desterro mostrai-nos Jesus”, já é um indicativo de que a vida do homem sobre a terra será dura (“Não é, acaso, uma luta a vida do homem sobre a terra?” Jó 7,1), e com muita dificuldade conseguimos caminhar retamente sem a ofensa do pecado ou a percepção de que temos uma alma a ser salva (“Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” Mc 9,36). Fato é que a salvação da alma não é por merecimento próprio, mas por graça de Deus (“Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie.” Ef 2,8-9), Jesus pelo seu nascimento, vida, morte e ressureição já nos garantiu a salvação eterna, mas o homem na sua livre vontade pode escolher que caminho seguir (“Vede: proponho-vos hoje bênção ou maldição. Bênção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor, vosso Deus, que hoje vos prescrevo. Maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor, vosso Deus, e vos apartardes do caminho que hoje vos mostro.” Dt 11,26-28), mas o homem de coração contrito desejando de fato seguir o Cristo através de sua igreja Católica, nem sempre consegue se manter firme nesta jornada de fé, esperança e amor, não conseguindo responder corretamente ao que a fé em Deus nos pede (“Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço.” Rm 7,15), de fato gerando por certas vezes até um desanimo de vida, angústia e frustação: “O céu não é para mim ou quem consegue viver como Cristo viveu?”, e nesta luta constante temos ainda por inimigo o mundo, o demônio e a carne (“Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – não procede do Pai, mas do mundo.” 1Jo 2,15-16) / (“Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar.” 1Pe 5,8), e tendo por agravante nossa natureza decaída, a tendência e vontade fraca que nos induz ao pecado, um resumo claro desta condição é o que São Luís Maria Grignon de Montfort, diz em seu Tratado sobre a verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria: “Toda a nossa herança é orgulho e cegueira no espírito, endurecimento no coração, fraqueza e inconstância na alma, concupiscência, paixões revoltadas e doenças no corpo. Somos, naturalmente, mais orgulhosos que os pavões, mais apegados à terra que os sapos, mais feios que os bodes, mais invejosos que as serpentes, mais glutões que os porcos, mais coléricos que os tigres e mais preguiçosos que as tartarugas; mais fracos que os caniços, e mais inconstantes do que um catavento. Tudo que temos em nosso íntimo é nada e pecado, e só merecemos a ira de Deus e o inferno eterno (TVD 79)”.
Diante de tudo que vimos é possível permanecer com a fé firme e olhos sempre voltados para Deus? Sim, é possível, a Igreja Católica já nos garantiu por assim dizer as “ferramentas” que são os sacramentos (“sinal visível da graça invisível”), a Santa Missa, confissão, comunhão e visitas ao Santíssimo Sacramento, mas como também vimos anteriormente, pelos inimigos da alma e fraqueza de vontade, nem sempre conseguimos manter nossa vida espiritual em sintonia com as verdades da vida contemporânea cheia de contradições, situações e oportunidades de pecado, aflições diante das incertezas do futuro, busca pelas coisas transitórias que o mundo oferece mas que nunca satisfaz, geralmente confundindo “alegria do mundo” pela “felicidade eterna”, uma tentativa frustrada de preencher um vazio humano que nunca têm fim, mas que já bem dizia Santo Agostinho: “No coração do homem há um vazio que só Deus pode preencher”. Diante de tudo que relatamos é fato que necessitamos de uma ajuda, um auxílio, um apoio extraordinário que nos ajude na caminhada da fé, “alguém” que como pessoa entenda a situação humana, mas ao mesmo tempo seja santa e ligado ao próprio Cristo, que pelos seus próprios méritos interceda e recorra as graças de Cristo por nós, essa sem dúvida é Nossa Senhora, ela como mãe de Deus e nossa, suplicando ao bom Deus que nos ajude a completar a obra de Cristo em nossos corações, como diz São Josemaría Escrivá de Balaguer: “Ama a Senhora. E Ela te obterá graça abundante para venceres nesta luta quotidiana”, “A Jesus sempre se vai e se “volta” por Maria”, ela é um caminho seguro para Cristo, ele entende nossa fragilidade, conquista nossos corações como Mãe entregando-os a Cristo. Não se trata de uma “substituição” da fé em Cristo por Maria, mas um aumento de disposição da alma para Cristo através de Maria e com Maria, aprendendo com “Ela” a imitar Cristo com afeição da alma e mais que isto uma devoção a Cristo efetiva, que muda nosso modo de agir e de se relacionar conosco, o mundo e as pessoas. A prática da consagração à Nossa Senhora consiste em entregar-se inteiramente, na qualidade de “*escravo” a Maria e, por Ela, a Jesus, e em procurar fazer todas as ações com Maria, em Maria, por Maria e, para Maria, no intuito de fazê-las mais perfeitamente com Jesus, em Jesus, por Jesus e para Jesus, não se trata simplesmente de uma devoção; é mais que isso: “um método eficaz de santificação (“Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; 1Ts 4,3a”). O fim desta consagração/devoção é vivermos numa completa dependência de Jesus Cristo, mas para estabelecer esta completa dependência o meio escolhido é através de Maria Santíssima. Por Ela Cristo veio para nós, por Ela vamos para Ele. Caríssimos irmãos, se tens dificuldade de te manter firme na fé consagra-te a Maria, se esta firme na fé, consagra-te a Maria para que não vacile e venha a cair, de qualquer forma sempre com Maria. “Ad Iesum per Mariam” – A Jesus por Maria.
*escravo
São Luís Maria Grignon de Montfort salienta três espécies de escravidão:
- O primeiro é a escravidão por natureza; todas as criaturas são escravas de Deus neste sentido.
- O segundo é a escravidão por constrangimento, em que alguém é reduzido à servidão, seja por violência, seja por uma lei. Tal é a escravidão dos demônios e dos réprobos.
- O terceiro é a escravidão por amor, ou por livre vontade, um estado de total dependência de Maria, no qual, embora conservando a nossa liberdade, no entanto, dela não nos queremos servir senão para a glória de Deus e de Maria.
Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por ela que deve reinar no mundo.